terça-feira, 1 de novembro de 2016

Distorções do dicionário do Novo Testamento grego e suas implicações interpretativas.

Tendo estudado cuidadosamente o “Léxico Grego-Português do Novo Testamento baseado em domínios semânticos de Johannes Louw e Eugene Nida,” uma obra volumosa (tem 786 páginas) e aparentemente de grande envergadura linguística, publicada em 2013, lamentei pelo estarrecimento da situação que previa acontecer.
Em meu livro “Subsídios em Grego Bíblico” publicado em 2009, mostrei no capítulo “vocabulário etimológico e sinonímico do Novo Testamento grego” que o trabalho de tradução da Bíblia precisava primeiro de uma revisão no dicionário grego, procurando separar cuidadosamente os vocábulos em campos semânticos (de significados) específicos. Cada palavra grega tem um significado próprio, muitas vezes único para determinada coisa que se denomina, daí a sinonímia (o estudo de sinônimos, ou seja, de palavras diferentes com significados parecidos) ser tão rico no idioma grego. Após esse trabalho, já iniciado por mim, o que se deveria fazer era buscar as palavras mais adequadas das línguas receptoras para se preparar o dicionário grego-português, isso feito, a tradução da Bíblia poderia então ser revisada, aproveitando para se fazer notas exegéticas em futuras bíblias de estudo que ajudaria o leitor leigo a se aprofundar nos ensinos bíblicos.
A obra de Louw e Nida é muito parecida com minha no conceito e na percepção do que se deveria se feito, mas em contramão da constatação da necessidade do que se deveria fazer, os autores, bem como os tradutores do lado português, destroem completamente o dicionário grego de fora para dentro, ou seja, em vez de ser feita as devidas correções na tradução da Bíblia é o dicionário que se flexiona para justificar a tradução. Nota-se que a busca é de fato vender as bíblias já traduzidas com as falhas a serem corrigidas. É lamentável!!
Não nego que, como dizem os autores: “Quem elabora um dicionário em qualquer língua e, especialmente, quem elabora um léxico de uma língua que foi usada há mais de dois mil anos se depara com um grande número de problemas. Estes resultam de indeterminação no âmbito dos referentes, de fronteiras pouco definidas ou nítidas, de conjuntos incompletos de significados relacionados entre si, de limitação do corpus e de informações históricas, bem como de especialização de significado por causa da singularidade da mensagem. Na elaboração deste léxico, esses problemas foram verdadeiros desafios, e os editores não estão plenamente convencidos de que encontraram soluções satisfatórias para muitas dessas dificuldades” (trecho da conclusão da obra, Pág. xxiv). A questão, contudo, é que os autores trabalharam para diminuir a febre e não para eliminar inflamação que a provoca, e que na tentativa de reduzir a febre agravaram mais ainda o problema.
O que mais irrita é o linguajar que busca se distanciar do técnico para ser melhor recebido pelo leigo, mas de que vale isso numa obra tragicamente equivocada? Todo o cuidado aparente de facilitar ao leitor os recursos da obra mais parece a continuação de uma conta matemática que começou errada e se perpetua conforme avança. O leitor leigo fica no final refém do saber de um livro de consulta que deveria na melhor das hipóteses ser lançado no lixo, porque apesar de volumoso e nitidamente bem trabalhado está errado conceitualmente. É trágico, mórbido e, efervescente e efusivamente, desastroso! – procurando termos mais incisivos para robustecer a crítica ácida de que se faz necessária tal obra absurda. Que ficará “absurda” por definição perfeita, pois quem ouvirá, quem dará ouvidos, já que o problema é tão técnico e distante do leitor comum da Bíblia que praticamente passará desapercebido pela maioria, ficando eu como um tolo iconoclasta ciumento. Sinto-me como outra voz no deserto, mas cumpro a minha missão como a primeira.
Urge que algo deva ser feito, a Bíblia deveria ser respeitada em sua mensagem e não moldada as conveniências de editoras que apenas buscam ganhar dinheiro com ela. Graças a Deus há um impedimento da parte de Deus impossibilita que a mensagem da Bíblia seja alterada em sua essência doutrinária, de modo que mesmo com falhas tradutórias o Espírito Santo faz com que o verdadeiro sentido das palavras seja conhecido por todos os da verdade. Todavia, Deus também cuida que a preservação gloriosa de sua Palavra escrita seja mantida, e essa é a missão de alguns que infelizmente não fazem parte os doutores Louw e Nida e os editores da Sociedade Bíblica do Brasil. Tudo o que possuem de erudição e poder editorial apenas os condena mais pela falta de compromisso com a verdade e a responsabilidade de se fazer o dever que nossa condição ou posição nos impõe.

Exegese de Fp 2.5-11 – As duas formas de Cristo: forma de Deus=Deus; forma de servo=homem


Numa tradução direta do grego lemos em Fp 2.5-11:

“Tenham o mesmo pensamento que houve também em Cristo Jesus,
‘que em forma de Deus existia\não considerou usurpação ser igual a Deus\mas se esvaziando a si mesmo\tomando a forma de servo, sendo feito a semelhança dos homens e a achado na condição externa de homem\a si mesmo se humilhou sendo obediente até a morte, e morte de cruz.\Por isso também Deus a ele exaltou de modo muito elevado\e lhe deu O nome, o Nome que está acima de todos os nomes,\para que pelo nomem de Jesus todo joelho dobre-se nos céus e sobre a terra e nas regiões inferiores\e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus pai’”.

O texto bíblico acima no original está na forma poética porque tem desde muito tempo tinha uma característica de uma antiga canção espiritual que Paulo aqui se vale para ensinar a igreja. É provável que tenha surgido de um profeta doutrinário passando a ser inserido nas igrejas como medida da fé ou padrão doutrinário (Rm 12.6b).

Mas queria destacar da passagem o contraste que existe entre as expressões “forma de Deus” e “forma de servo”, nelas as duas condições de Cristo são abordadas, a da eternidade e da que viveu aqui na terra.Forma de Deus é dado de modo suscito, mas a forma de servo é desenvolvida, em que ficamos sabendo que a forma de servo que Jesus tinha era de homem em toda sua expressão humana, diz isso para que notemos que Jesus não assumiu a posição de um ser mais elevado como a de um anjo. Depois dessa análise fica transparente que se a condição de homem de Jesus era perfeita como homem na sua forma de servo, então a forma de Deus o era também como Soberano Senhor, assim é inegável que forma de Deus é o mesmo que ser igual a Deus, como o versículo 5 diz, e que essa condição que não foi obtida por usurpação, mas por pura existência natural.