Arqueologia Bíblica
A
arqueologia bíblica é um ramo da arqueologia especializado em estudos dos
restos materiais relacionados direta ou indiretamente com os relatos bíblicos e
com a história das religiões judaica e cristã. A região mais estudada pela
arqueologia bíblica, na pesquisa ocidental, é a denominada Terra Santa,
localizada no Médio Oriente. É uma disciplina que ao se ocupar na recuperação e
investigação científica dos restos materiais das culturas encontradas na
Bíblia, visa iluminar os períodos e descrições da Bíblia. Usa-se como base de
tempo, um amplo período entre o ano 2000 a. C. a 100 d.C. Outros preferem chamar
a arqueologia bíblica de arqueologia da
Palestina, referindo-se aos territórios situados ao leste e oeste do Rio
Jordão. Esta designação expressa o fato da arqueologia bíblica estar
especificamente circunscrita aos territórios que serviram de cenário aos
relatos bíblicos.
Os
principais elementos desta ciência arqueológica são, em sua maioria,
referências teológicas e religiosas, sendo considerada uma ciência em toda sua
dimensão metodológica. Assim como se dá com os registros históricos de outras
civilizações, os manuscritos descobertos devem ser comparados com outras
sociedades contemporâneas da Europa, Mesopotâmia e África.
As
técnicas científicas empregadas são as mesmas da arqueologia em geral, com
escavações e datação radiométrica, entre outras. Em contraste, a arqueologia do
antigo Médio Oriente é menos ampla e generalizada, tratando simplesmente do
Antigo Oriente sem tentar estabelecer uma relação específica entre as
descobertas e a Bíblia.
A
função da arqueologia bíblica não é confirmar ou desmentir os eventos bíblicos,
nem pretende influenciar determinadas doutrinas teológicas, tal como a da
salvação, apesar de que esse particular acabar se evidenciando na prática. Na
teoria o propósito era limita-se ao plano científico e não entrar no terreno da
fé. Mas no final das contas alguns resultados da arqueologia bíblica podem e
têm contribuído para:
a)
Aumentar o conhecimento sobre alguns dados históricos descritos nos relatos bíblicos
envolvendo governantes, personagens, batalhas e cidades.
b)
Descrever alguns detalhes concretos referidos nos livros bíblicos tais como o
túnel de Ezequias, a piscina de Siloé, o Gólgota entre outros.
c)
Fornecer dados que prestam uma ajuda fundamental aos estudos exegéticos da
Bíblia.
Assim
como todas as ciências, a arqueologia, no seu ramo de pesquisas bíblicas tem
suas próprias especificações assim como seu trabalho interdisciplinar. A
arqueologia bíblica tem como prioridade, o trabalho de equipe com disciplinas
como a antropologia, a geologia e outras ciências que permitem ter-se uma ideia
do mundo antigo. Outras disciplinas como a filosofia, a teologia, a exegese, a
hermenêutica, servem-se dos resultados científicos da arqueologia.
Por
exemplo, algumas vezes a Bíblia utiliza uma linguagem simbólica, menção que
pertence ao plano estritamente teológico, e não necessariamente verificável. No
entanto, a maioria das passagens bíblicas precisa ser verificável, e graças à
arqueologia, tem-se achado uma explicação concreta para estas. Por exemplo,
junto com estudos de outros arqueólogos, em 1981 o professor John J. Bimson
examinou a questão da destruição dos muros de Jericó. Atualmente, sabe-se, que
o relato bíblico mencionado no livro de Josué sobre a destruição de Jericó e a
imigração israelita à Terra Prometida coincide com os estudos arqueológicos das
ruínas escavadas, que puderam ser datadas ao mesmo período mencionada na
Bíblia, em meados do século XV a.C..
Alguns achados arqueológicos relevantes recentes são:
a)
A descoberta da Estela de Tel Dan em 1993: Trata-se duma pedra de basalto
escuro que menciona a “casa de Davi”, com a inscrição BYTDWD (byt: casa, dwd:
David). Esse achado foi importante porque é uma menção do Rei da Davi fora da
Bíblia. Muitos julgavam que o famoso rei judeu era uma lenda judaica porque só
estava mencionada na Bíblia.
b)
Já em 1996 foi descoberta a inscrição de Ecrom (Tel Mikné) contendo o nome da
cidade de Ecrom e uma lista dos seus reis.
c)
Em 1998 foi descoberta a sinagoga de Jericó datada do ano 75 a.C. (Ehud Netzer).
d)
Em 2001 foi descoberta a Estela de Joás, rei de Judá.
e)
Em 2002 a urna de Tiago, objeto de polêmica desde o seu descobrimento, após muita
batalha judicial, de muitas análises e pareceres dos especialistas, foi
finalmente reconhecida como legítima (o “Tiago” é identificado como sendo
Tiago, irmão de Jesus). Inspirou até o filme “O corpo” com Antônio Banderas.
f)
Em 2007 foi encontrado o túmulo de Herodes.
A arqueologia e os manuscritos da
Bíblia.
Segundo
Jesus em Mt 24.2 todas aquelas construções que os discípulos se admiraram iriam
ser totalmente destruídas, nas palavras dele: “não ficaria pedra sobre pedra
que não fosse derribada”. Por isso entendo que quase nada das épocas bíblicas
chegaram a nossos dias, além disso, é sabido por todos que as terras bíblicas foram
muito visadas por todos os povos depois da diáspora judaica, de modo que aquilo
de original do período bíblico que não foi destruído acabou por ser violado por
aqueles que construíram outras edificações sobre os lugares citados pela
Bíblia. Por outro lado em matéria de documentos bíblicos como papiros e
pergaminhos a abundância é incomparável, o que de certa forma também está
confirmado pelas palavras proféticas de Jesus que disse que passariam o céu e a
terra, mas suas palavras não passariam, por isso que a papirologia tem uma
relação especial com a arqueologia em geral, sendo uma das maiores autoridades
em terreno bíblico. Dentre alguns dos achados de manuscritos muito úteis à
arqueologia podemos listar:
a)
O Papiro Chester Beatty foi
descoberto por A. Chester Beatty, que comprou fragmentos de 12 manuscritos de
papiro de um negociante egípcio por volta de 1930. Esses manuscritos
compreendem sete do Antigo Testamento, três do Novo (P45, P46
e P47)
e dois de outros livros cristãos, e encontram-se no Museu Beatty, em Dublim. O P45
consiste em 30 folhas de um códice que em sua origem continha os quatro
evangelhos e Atos num total estimado em cerca de 220 folhas. Os cadernos são
formados por apenas duas folhas cada um, sugerindo uma data anterior à dos
códices em cadernos de até 12 folhas. A escrita é pequena e numa única coluna.
As folhas consistem em duas de Mateus, seis de Marcos, sete de Lucas, duas de
João e 13 de Atos, e datam do início do século III. O P46 Contém 86
folhas quase perfeitas de um códice das epístolas de Paulo que tinha, num único
caderno, cerca de 104 folhas, das quais as últimas cinco
eram provavelmente em branco. A ordem das epístolas é a seguinte: Romanos,
Hebreus, 1 e 2 Coríntios, Efésios, Gálatas, Filipenses, Colossenses e 1 e 2
Tessalonicenses. Estão faltando as pastorais, que talvez nunca fizeram parte do
códice. A importância desse manuscrito, datado do final do século II ou início
do século III, é seu testemunho acerca das epístolas paulinas, incluindo
Hebreus, pelo menos um século antes dos grandes manuscritos Unciais do século
IV. O P47 possui dez folhas de um códice do Apocalipse
(9.10-17.2), de um total original calculado em 32. Foi escrito de forma
grosseira no século III e consiste no mais antigo, porém, não melhor manuscrito
do Apocalipse.
b)
O Papiro P52 ou Rylands
457 que se encontra na Biblioteca Rylands em Manchester. Com cerca de 6,5 x
8,5 cm de tamanho, é o texto mais antigo que se conhece do Novo Testamento. Foi
descoberto por B. P. Grenfell em 1920, no deserto do Médio Egito, e tornou-se
público em 1934 por C. H. Roberts. Contém parte de João 18.31 a 33 de um lado e
dos versículos 37 e 38 de outro, numa forma escrita que pode ser atribuída ao
início do século II (130). Apesar de pequeno, todavia, sua importância está
relacionada mais com a data do que propriamente com o texto do evangelho. Ele
refuta vigorosamente a ideia corrente no século XIX de que o evangelho de João
não fora escrito senão nos meados do século II.
c)
Papiro Bodmer integra outro grupo de
manuscritos preciosos para os estudos da chamada crítica textual, os principais
são os enumerados em P66, P72 e o P75,
os quais foram adquiridos no Egito em 1955 por M. Martin Bodmer, e encontram-se
na Biblioteca Bodmer de Literatura Mundial, na cidade de Genebra. O P66
abrange todo o evangelho de João, especialmente os capítulos 1 a 14, que ocupam
104 folhas com poucas lacunas; dos capítulos 15 a 21, originalmente em outras
46 folhas, restam apenas fragmentos. Foi escrito de maneira um tanto descuidada
no final do século II ou no início do III e apresenta um texto mesclado, com
várias correções. É, todavia, de grande importância tanto pela antiguidade do
texto quanto por sua forma relativamente completa. O P72 um
manuscrito misto que contém o mais antigo texto preservado de 1 e 2 Pedro e
Judas, além dos seguintes documentos: a natividade de Maria, a correspondência
apócrifa de Paulo aos coríntios, a 11a Ode de Salomão, a homília de
Melito sobre a Páscoa, o fragmento de um hino, a apologia de Fíleas e os Salmos
33 e 34. Foi escrito provavelmente entre os séculos III e IV por um escriba de
fala copta. O P75 provavelmente o texto mais importante do Papiro
Bodmer consta de 102 folhas, de umas 144 estimadas, este papiro contém a maior
parte de Lucas (3.18-22.24) e uma boa parte de João (1-15). Interessante é que
João começa na mesma página em que Lucas termina, o que pressupõe um cânon dos
quatro evangelhos. Escrito cuidadosamente no século III, é a mais antiga cópia
de Lucas e uma das mais antigas de João.
d)
Em 1964 foi descoberto o Papiro de Ketej-Jericó da época persa-helenística.
e)
Códice Sinaítico ou א (álefe)
ou 01 foi descoberto na metade do
século XIX por L. F. Constantin von Tischendorf, grande estudioso e professor
de Leipzig. Escrito em pergaminho fino de excelente qualidade, esse manuscrito
contém em 347 folhas de boa parte do Antigo Testamento e todo o Novo Testamento,
arranjados em cadernos de oitos folhas. Foi escrito por cerca de três escribas,
provavelmente no Egito, na primeira metade do século IV, mas apresenta também o
trabalho de vários corretores posteriores. A escrita é bela e sem adornos, com
quatro colunas de texto por páginas. A ordem dos livros neotestamentários é a
seguinte: evangelhos, epístolas paulinas, Atos, epístolas católicas e
Apocalipse, após o qual há ainda a epístola de Barnabé e grande parte de o
Pastor de Hermas, dois livros pós-apostólicos. É o mais antigo manuscrito completo
existente, e um dos mais valiosos, pela qualidade de seu texto. Dentre as
várias omissões que apresenta, destacam-se as seguintes: a doxologia da oração
do Senhor (Mt 6.13); os versículos finais do evangelho de Marcos (16.9-20) e o
incidente da mulher adúltera (Jo 7.53-8.11).
A
história do Códice Sinaítico é
dramática e merece ser repetida. Em 1844, enquanto viajava pelo Oriente Médio à
procura de manuscritos, Tischendorf visitou o Mosteiro Ortodoxo de Santa
Catarina, no Monte Sinai, onde, num cesto de lixo, encontrou algumas folhas da
Septuaginta que estavam para ser queimadas. Reconhecendo a importância das
folhas, pode guardar as 43 que encontrou. Retornando ao mosteiro em 1853, os
monges mostraram-se cautelosos diante de seu excitamento ao querer procurar
outras porções do mesmo manuscrito, e proibiram-no de fazê-lo. Voltando
novamente em 1859, agora sob a proteção do Tçar (ou Csar) Alexandre II, patrono
da Igreja Ortodoxa Grega, foi-lhe permitido levar o manuscrito ao Cairo e
copiá-lo. Com muita diplomacia e persistência, Tischendorf também persuadiu os
monges a enviá-lo como doação ao Tçar. Assim, o manuscrito permaneceu na então
Lenigrado até o Natal de 1933, quando foi vendido pelo governo soviético por
aproximadamente 500 000 dólares, ao Museu Britânico de Londres, onde se
encontra atualmente.
f)
Os manuscritos do Mar Morto.
Considerada por muitos como a maior descoberta do século 20, os manuscritos do
Mar Morto foram muito importantes para confirmar a antiguidade o texto hebraico
do Antigo Testamento. Antes dele as mais antigas cópias dos textos em hebraico
do Antigo Testamento eram do século nove. O manuscrito hebraico do Mar Morto é
do primeiro século do cristianismo e confirmou que o texto hebraico do século
nove usado para as traduções que hoje usamos são praticamente iguais e calou de
vez as críticas dos mulçumanos que alegavam que as escrituras originais
hebraicas eram diferentes das do século nove.
A Bíblia e a arqueologia.
É
interessante que a própria Bíblia revela que a arqueologia deveria ser usada
para também testemunhar acerca de Deus e dos eventos que marcaram o povo de
Deus. Em diversas passagens bíblicas fica claro que Deus sempre intencionou
usar marcos geográficos para transmitir uma mensagem para as gerações futuras.
Por exemplo, na travessia do rio Jordão, Deus ordenou que fossem tiradas doze
pedras do leito do rio Jordão para que fosse erguido um monumento, com isso
Deus queria provocar uma curiosidade com objetivos instrutivos: “Quando no
futuro vossos filhos perguntarem a seus pais: Que significam essas pedras?
Fareis saber a vossos filhos: Israel passou em seco este Jordão, pois o Senhor
fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis. O Senhor vosso
Deus fez ao Jordão o que havia feito com o mar Vermelho, o qual secou perante
nós, até que passamos. Ele fez isto para que todos os povos da terra conheçam
que a mão do Senhor é forte, e para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias”
(Js 4.21-24). Obviamente que aquele monumento serviu como testemunho visível
por muitas gerações, depois com o estabelecimento da Bíblia como um registro
histórico ele deixou de existir. Mas fica evidente que Deus de certa forma
estava mostrando que os lugares em que Ele interviu em favor de seu povo eram
importantes como testemunho para o futuro, daí a conclusão que a arqueologia
tem o seu valor.
Fontes de pesquisa: livro Crítica Textual do Novo
Testamento de Wilson Paroshi e internet.