quinta-feira, 16 de março de 2017

Comentário de 2Tm 3.16

Muito usado como o texto básico para definir o tipo de inspiração da Bíblia, o texto de 2Tm 3.16, possui duas traduções, vejamos e analisemos suas implicações:

1) “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça,”  Almeida Revista e Corrigida, quarta edição de 2009.

2) “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça,” Almeida Edição contemporânea.

Há uma diferença clara entre as duas versões. Na primeira é dito que apenas toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para instrução, mas a segunda versão parece dizer que todo escrito é inspirado. De imediato alguém dirá que a segunda versão não corresponde à verdade, já que nem todo escrito é inspirado por Deus. Mas essa segunda versão por incrível que pareça é a tradução correta do texto grego e se explica pela análise contextual, pois se for observado bem o que Paulo está dizendo é que as escrituras do contexto, no caso as Sagradas Letras do verso 15, são todas inspiradas. Com isso temos a afirmação bíblica que todo o texto do Antigo Testamento é inspirado por Deus, e que as discrepâncias devem ser ter alguma explicação.

Na primeira versão teríamos um apoio para os que acreditam que apenas partes das Escrituras são inspiradas e que essas possuem um uso instrutivo.  Mas trata-se de um equívoco que surgiu pela interferência da hermenêutica sobre a tradução, o tradutor julgou que algo estava incorreto na afirmação de que toda escritura é divinamente inspirada e resolveu fazer uma tradução interpretativa para não dizer algo não ortodoxo numa tradução literal.

A expressão “divinamente inspirada” no original grego corresponde a uma única palavra: θεόπνευστος (THEÓPNEUSTOS) junção das palavras “Deus” e “Sopro”. Literalmente diz que as Escrituras vieram de Deus. Sendo uma palavra que ocorre uma única vez no Novo Testamento grego, por isso chamada de “hápax legomena”, talvez a melhor maneira de se entender o significado desse vocábulo é comparar o texto de 2Tm 2.16 com o de 2Pe 1.21 que se debruça sobre a mesma questão, e assim poderíamos dizer que o THEÓPENEUSTOS seria um mover de Deus particular sobre alguns homens para produzir as sagradas escrituras.