quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Estudos de palavras bíblicas

Estudos de Palavras Bíblicas
Estes artigos sobre palavras bíblicas são fruto do trabalho filológico (estudo de palavras) desenvolvido por mim visando à tradução da Bíblia Anabatista. Em meu livro “Subsídios em Grego Bíblico” há um capítulo específico em que trato da sinonímia e etimologia das palavras do Novo Testamento Grego. A sinonímia e a etimologia são a base do trabalho para um dicionário grego/português e, também, posteriormente para a tradução do texto bíblico escrito em língua grega, tanto do Novo como do Antigo Testamento (Septuaginta). Especificamente, aqui, nestes artigos, estarei me detendo em palavras bíblicas dentro do contexto em que se encontram, fazendo de modo pontual a aplicação do material que preparei e que estou preparando. Assim, aqueles que acompanham minhas crônicas neste blog, desfrutarão antecipadamente do que estou trabalhando, especialmente no caso da nova tradução da Bíblia feita pelos Anabatistas do Ceará. Suas observações serão contadas e apreciadas, participe e faça suas perguntas e sugestões.

Luiz Sousa em Cristo eternamente!

Como exemplos iniciais da importância de uma nova tradução da Bíblia, vejamos algumas passagens bíblicas que carecem de uma verdadeira atualização:

1) Em 1Pe 4.3 lemos na versão Almeida Atualizada, 2ª edição, de 1993: “Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias bebedices e em detestáveis idolatrias”. A palavra “borracheira” é a tradução da palavra grega OINOFLYGÍAIS, que significa literalmente “bebedor de vinho”, já que é formada de dois vocábulos gregos: OINOS (vinho) e Fluo (deixar correr um corrente de palavras). Por que se traduz por “borracheira” ou “borrachice” é o que nos surpreende. Como as detentoras dos direitos autorais da tradução Almeida não atualizaram a palavra “borracheira” para “embriaguez” é prova inconteste da falta de cuidado nas revisões da Bíblia. No mesmo versículo, encontramos a palavra grega PÓTOIS traduzida por “bebedice”, que deriva do verbo PINO (beber) e do substantivo PÓSIS (ação de beber). Ora, no mesmo verso encontramos a Bíblia condenando a “embriaguez” e a “bebedice”. Mostrando que tanto beber até ficar embriagado é condenado como o chamado “beber socialmente”, quando se ingere bebidas fortes sem vistas na embriaguez. Daí ver-se que realmente precisamos de verdadeiras atualizações da Bíblia. A tradução anabatista da Bíblia será uma versão preocupada com a ética de imposta pela Palavra de Deus. Ore para que tudo concorra conforme a vontade de Deus nesta nova versão.

2) Em At 2.37 lemos na Almeida Atualizada, 2ª edição, de 1993: “Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?”. O verbo traduzido por “compungiu-se-lhes” é KATANÚSSOMAI, um verbo dos chamados verbos “depoentes”, os que só apresentam a forma médio-passiva, que semanticamente significa no “apunhalado”. Este verbo grego é cognato (da mesma raiz etimológica) de NÚCSIS (picada), de NÚSSA (meta na extremidade da corrida onde se dava a volta) e de NÚSSO (picar, ferir) e fazendo um link ou uma conexão com Hb 4.12, em lemos que a Palavra de Deus “é mais afiada que qualquer espada de dois gumes, e que penetra até mesmo na divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas”, fica claro que as palavras de Pedro foram palavras divinas, penetrantes, agudas, como de uma ponta de espada, poderosas pelo Espírito Santo, que convence acerca do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). A conversão de quase três mil almas deveu-se a essa palavra poderosa e ao incentivo de muitos dos irmãos que estavam cheios do Espírito Santo (At 2.37-41). Vemos, então, o segredo do batismo no Espírito Santo, que usando o crente fala profundamente ao seu coração, levando-o ao arrependimento. Portanto, a melhor tradução para o verbo KATANÚSSOMAI no texto de At 2.37 é de fato “apunhalados”, pois mostra que de fato houve um “furo” no espírito dos perdidos, levando-os ao arrependimento espiritual.

3) Todo o capítulo 2 da carta do Apóstolo Paulo escrita a Tito é marcada pelo verbo grego lale,w (falar), que explico no livro “Subsídios em Grego Bíblico”, reflete a ideia de uma fala provocada, seja por missão (Lc 1.19), um milagre (Mt 15.31), pela operação do Espírito divino (Mt 10.19, 20; At 2.4), por Deus-pai (Jo 8.28, 38; 12.49) ou por espíritos maus (Mc 1.34; Jo 8.44). Neste capítulo 2, da carta de Tito, facilmente se nota no texto grego que tal verbo abre e fecha o capítulo, ele ocorre no verso 1: “Tu, porém, FALA o que convém a sã doutrina”, e também aparece no final do capítulo, no verso 15: “FALA estas coisas; exorta e repreende com tada autoridade; ninguém te despreze”. O que Paulo estaria então dizendo a Tito, é que ele falasse em nome de Jesus, tudo o que está contido no capítulo 2, assim, todos na igreja – os senhores (v.2), as senhoras (v.3), os jovens (v.6), os trabalhadores (v.9), deveriam obedecer ao ensinamento ministrado por este cooperador de Paulo, como se ele fosse o próprio Jesus, já que esta receptividade da igreja para com o dirigente é fundamental para a edificação e crescimento das igrejas cristãs (1Ts 2.13). Ao que parece Tito não era Pastor, era apenas um cooperador, um diácono de Paulo. Mas nota que apesar dessa aparente simplicidade de título ou credencial, nem por isso o Apóstolo Paulo deixou de incumbir grandes responsabilidades a Tito. Iria “por em ordem plenamente” [em grego: EPDIORTHÓOMAI, junção da preposição “EPI” e “DIOORTHÓO (endireitar)] as coisas que faltavam na ilha de Creta, além de constituir em cada cidade da ilha um presbítero (Tt 1.5). Ou seja, um simples cooperador iniciaria as escolhas dos pastores das congregações. Como é diferente hoje quando os pastores se julgam os donos das igrejas. Jesus não põem ninguém maior sobre os outros na sua Igreja, tosos são iguais, ninguém é maior do que os outros (Mt 20.2428; Jo 12.12-17), se alguém fala em nome de Cristo, mesmo um novo convertido, ele será seu representante autorizado, foi o que Jesus ensinou (Lc 9.46-48). Quando em Hb 13.17 é dito que devemos obedecer aos nossos guias (em grego HÉGEOMAI: guiar), propositalmente não foi escrito “pastores”. Porque, na verdade, e isso ocorre muitas vezes, na frente de uma igreja pode muito bem está um crente não-consagrado, e nem por isso se deve deixar de obedecê-los em suas decisões eclesiásticas.

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