quinta-feira, 10 de novembro de 2022

A graça irresistível

Lição 7 A graça irresistível calvinista. Os calvinistas ao aceitarem o ensino que Deus escolhe os homens para a salvação, sem sua participação, foram obrigados a estabelecer também um ensino de que Deus obrigasse aos homens que escolheu de aceitar o Cristianismo. A chamada "graça irresistível" é o ensino calvinista que teve de ser desenvolvido para que os outros pressupostos desse ensino fossem aceitos. Nas Escrituras tal ensino não existe e nessa lição confirmaremos isso. A) Deus não muda a vontade dos homens. No Antigo Testamento vemos que o modo de Deus fazer que os homens cumprissem seus desígnios nunca foi interferindo em seus desejos, sempre se valeu do convencimento externo. Foi assim com Moisés, Faraó e Jonas. Jamais Deus mudou a vontade das pessoas. Moisés não queria se apresentar à Faraó por sua dificuldade de falar e por isso Deus estabeleceu Araão como seu porta-voz no lugar de Moisés para convencê-lo a ir. Faraó não queria deixar o povo de Israel sair do Egito e essa vontade foi tão respeitada por Deus que Ele chegou a endurecer seus sentimentos, para que fortalecendo sua decisão, pudesse realizar grandes feitos na terra do Egito e assim se revelar como Deus todo-poderoso, ou seja, a vontade de Faraó foi respeitada, Deus de forma alguma a mudou, pelo contrário a fortaleceu nos sentimentos. O profeta Jonas não queria pregar em Nínive, Deus o obrigou a isso por ser seu Senhor a quem ele temia, como o próprio Jonas se considerava (Jn1.9), mas em hipótese alguma mudou sua vontade. Jonas foi no final convencido, mas seu desejo não foi mudado. Deus sempre enviava seus profetas a nação de Israel para que obedecesse sua vontade, mas nunca mudou a vontade das pessoas. Por isso que parece estranho Deus usar sua graça para mudar a vontade das pessoas para que recebam sua palavra pelo evangelho. Isso de modo algum representa o modo de Deus persuadir os homens a mudarem suas vontades. O arrependimento, o nome que se dá quando alguém muda sua vontade, sempre parte da pessoa e não de uma interferência de Deus, muito menos irresistível. Paulo diz que Deus nos constrange pelo seu amor (2Co 5.14) em vez de interferir diretamente em nossas decisões. Talvez alguém cite o caso de Nabucodonosor em que Deus o levou a loucura como um possível exemplo de Deus mudando a vontade de um homem (Dn 4.28-37). Mas ao torná-lo louco, Deus não mudou sua vontade, nessa situação Nabucodonosor estava em neutralidade, Deus não mudou sua vontade para a dele, simplesmente o feriu de uma debilidade mental para que depois, por si só, Nabucodonosor reconhecesse que era apenas um homem limitado diante do Deus do céu. Houve um castigo e um reconhecimento do mesmo, não uma mudança de vontade. B) A rejeição de muitos a palavra de Deus nega a graça irresistível. A possibilidade de recusar a oferta do evangelho e da palavra de Deus é clara em toda a Bíblia. Ela diz que Janes e Jambres “resistiram à verdade” (2Tm.3:8), que “nem todos os israelitas aceitaram as boas novas” (Rm.10:16), que alguns “suprimem a verdade pela injustiça” (Rm.1:18), que os judeus de Antioquia “rejeitaram e não se julgaram dignos da vida eterna” (At.13:46), que “os seus não o receberam” (Jo.1:11), mas “a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo.1:12). Se nesse texto é dito que todos quanto RECEBERAM a Cristo, os que creram no seu nome, Deus dar-lhes a autoridade de ser feito filho de Deus. Fica claro nesse verso que a pessoa precisa RECEBER, apontando da a possibilidade de não, e que ao receber a Cristo, essa pessoa tem a autoridade de ser feita filha de Deus. É, portanto, inegável que a salvação é oferecida aos homens e que ao recebê-la se fazem filhos de Deus pela vontade de Deus. Em Lucas 7.30 lemos: "Mas os fariseus e os doutores da lei REJEITARAM o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele (João Batista)". Em Atos 7.51 Estêvão disse aos judeus que eles, como seus antepassados, estavam resistindo ao Espírito Santo. Ora, quem é maior a graça de Deus ou o Espírito Santo? Se o Espírito Santo, que é Deus, pode ser resistido como sua graça não poderia?? Alguns argumentam que eles rejeitavam porque eram incircuncisos de coração, no entanto, isso de forma alguma nega a rejeição. É impossível negar a realidade de que é possível resistir ou não resistir a Palavra de Deus; receber ou não receber a Cristo como nosso salvador; aceitar ou rejeitar a mensagem do Evangelho. Deus nunca atua mediante uma força irresistível, mas permite ser resistido. A graça não é irresistível, mas precisa ser aceita e recebida por parte do homem. Até Estêvão já sabia que o homem pode resistir ao Espírito Santo: “Povo rebelde, obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo!” (Atos 7:51). Ninguém “resiste” a algo a não ser que este algo queira outra coisa. Se o Espírito Santo não desejava a salvação daqueles que o resistiram, supostamente porque Deus já os havia predestinado à perdição, então por que ele estava tentando algo na vida deles? Se ele não estava tentando nada, não poderia ser “resistido”. Se ele estava tentando algo, mas não conseguiu e foi resistido, é porque a atuação de Deus não é monergística e muito menos irresistível. C) O arrependimento para todos. Em Rm 2.15 Paulo escreveu que os homens "mostram a obra da lei escrita em seus corações testifica do juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-se", e nisso fica provado que os homens sabem que estão em falta para com Deus, além disso o Espírito Santo veio para convencê-los da sua situação de pecado, injustiça e condenação. Lemos em Atos 17.30: "Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que TODOS OS HOMENS em TODO LUGAR se arrependa". Nesse texto é inegável que o arrependimento é concedido a todos os homens. Bíblia sempre coloca o arrependimento como sendo uma função do homem: “Daí em diante Jesus começou a pregar: ‘Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo’” (Mateus 4:17). “Ele dizia: ‘Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo’” (Mateus 3:2). Deus não crê pela própria pessoa, nem se arrepende por ela. Cabe ao próprio indivíduo se arrepender. Este arrependimento não é feito por Deus, e sim possibilitado por Ele. É por isso que Paulo disse: “Ouvindo isso, não apresentaram mais objeções e louvaram a Deus, dizendo: Então, Deus concedeu arrependimento para a vida até mesmo aos gentios!” (Atos 11:18). Esse conceder o arrependimento não é gerar independente das pessoas os sentimentos para se arrepender, mas o direito de por ele ser aceito por Deus, algo que já tinha sido dito por Jesus e que naquele momento se concretizou. C) A conversão de Paulo seria um exemplo de graça irresistível? O caso da conversão de Paulo é também muitas vezes citado para provar a graça irresistível. Mas na verdade Deus apareceu a Paulo para defender sua igreja. Jesus disse para Paulo que dura coisa era recalcitrar contra seus agulhões, e não que era impossível. Ao aparecer a Paulo no caminho de Damasco para defender sua igreja, Jesus levou a Paulo a crer em sua pessoa e assim ser salvo. Paulo explica em 1Tm 1.13 que quando perseguia a igreja ele o fazia por ignorância, diz em Fp 3.6 que o fez por zelo. Sua perseguição a igreja não era por malignidade, por recusar a reconhecer a Cristo como Salvador, mas exatamente por julgar que o cristianismo era um ensino contra a verdade de Deus. Por essa sinceramente é que Cristo se revelou a Paulo ao defender sua igreja e por extensão Paulo acabou sendo salvo. A conversão de Paulo, bem como dos demais apóstolos sem dúvida foram marcadas pelo privilégio de verem ao próprio Cristo, mas em nada difere da nossa que tem a atuação do Espírito Santo diretamente convencendo nosso coração das verdades de Deus, assim são coisas que se equivalem e por isso não caracterizam alguma acepção no processo de salvação. O que aconteceu com Paulo em sua conversão seria semelhante a qualquer pessoa que estivesse nas mesmas circunstâncias e motivações. D) Graça irresistível para quem? O autor de Hebreus disse: “Cuidado! Não rejeitem aquele que fala. Se os que se recusaram a ouvir aquele que os advertia na terra não escaparam, quanto mais nós, se nos desviarmos daquele que nos adverte dos céus?” (Hebreus 12:25). Isso não faz sentido se a graça é irresistível e não pode ser rejeitada. Se a pessoa é eleita, ela não pode resistir à graça. Se ela não é eleita, então a graça salvífica não é oferecida a ela, e ela não pode rejeitar a algo que não lhe foi oferecido, da mesma forma que ninguém recusa um presente se ninguém lhe ofereceu um. De todos os modos, dizer para “não rejeitar” a graça seria inócuo e sem sentido, se o modus operandi desta graça é irresistível. E) Um versículo para todos. O texto de Ap 3.20 diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei na sua casa, e cearei com ele, e Ele comigo”. É um texto que mostra Jesus dando a pessoa o direito de não abrir a porta para Ele. Os calvinistas talvez argumentam que esse versículo não se dirige a incrédulos, mas a uma igreja. Todavia, lendo o versículo dentro do contexto, percebe-se que ele é genérico, sendo uma afirmação de Cristo de ampla aplicabilidade, tanto para crentes como para não crentes, e mais ainda por ser o pronome indefinido (alguém). F) A graça precisa ser recebida e pode ser tornada vã. Em 1Pe 1.13 lemos que devemos esperar inteiramente na graça que nos foi OFERECIDA em Cristo Jesus, se ela foi OFERECIDA fica óbvio que pode ser recusada. Se existisse uma graça irresistível ela não tinha de ser primeiro aceita. Em Hb 12.15 é dito para que ninguém se prive da graça de Deus, se podemos se privar da graça é prova que ela não é irresistível. Em dois textos bíblicos Paulo fala da possibilidade da graça de Deus ser tornada vã, em 1Co 15.10 e em 2Co 6.1. Ora, se a graça de Deus pode ser tornada vã é porque ela pode ser recusada, não sendo, portanto, irresistível.

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