quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Explicando textos difíceis da predestinação calvinista

Lição 9 Explicando textos que aparentemente apoiam a interpretação calvinista da predestinação. Nesta lição, selecionamos alguns textos bíblicos usados pelos calvinistas para defender seus ensinos. Faremos as devidas explicações para retirar todas as dúvidas. A) Rm 8.29 é 30. Rm 8.29,30 "Porquanto aos que de antemão conheceu, também predestinou para serem conformes à imagem de seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou". O ponto em foco da interpretação desse texto está na primeira frase "aos que de antemão conheceu". O verbo grego que traduz a expressão "antemão conheceu" é PROGINÓSKO formado da preposição PRÓ (antes) e o verbo GINÓSKO (conhecer). Falando desse verbo e seu correspondente substantivo grego em sua Teologia Sistemática, o calvinista Loius Berkof, diz o seguinte: "O sentido das palavras PROGINOSKEIN é PROGNOSIS no Novo Testamento não é determinado pelo uso que delas é feito no grego clássico, mas pelo sentido especial da palavra hebraica YADA. Elas não indicam simples previsão ou presciência intelectual, a mera obtenção de conhecimento de alguma coisa de antemão, mas, sim, um conhecimento seletivo que toma em consideração alguém favorecendo-o, e que o faz objeto de amor, e, assim aproxima-se da ideia de predestinação, At 2.23; (cp. 4.8); Rm 8.29; 11.2; 1Pe 1.2. Estas passagens simplesmente perderão o seu significado, se as palavras forem entendidas apenas no sentido de conhecer alguém antecipadamente, pois nesse sentido Deus conhece previamente todos os honens". Berkhof para fazer que os termos gregos signifiquem mais que conhecimento antecipado, busca conectar o significado dessas palavras gregas ao vocábulo hebraico YADA (conhecer) , que em algumas passagens no Antigo Testamento indicavam um sentido amoroso, como Gn. 4.1 falando da relação sexual de Adão e Eva. Acontece que a palavra hebraica YADA não corresponde às palavras gregas PROGINÓSKO (conhecer de antemão) e PRÓGNOSIS (presciência), mas a palavra a grega GNÕSIS (conhecimento). Adão e Eva não podiam ter relações sexuais em tempos diferentes, em Romanos 8.29 Paulo está falando de um conhecimento que apenas Deus podia ter por conta de ser um atributo próprio dele. Quem conhece antecipadamente em Rm 8.29 é apenas Deus, portanto, não se trata de um relacionamento amoroso mútuo, em Deus e os eleitos, mas de fato de um conhecimento prévio de Deus. As palavras em questão com seu real significado de presciência e conhecimento prévio dão um significado especial em Rm 8.29 não por elas mesmas, mas pelo contexto da passagem, onde Paulo está falando para a Igreja. O significado das palavras gregas em questão não se restringem ao grego clássico, isso porque ocorrem em várias passagens bíblicas. Comparando o significado nas diversas ocorrências é que determinamos o seu sentido. PROGINÓSKO ocorre em At 26.5 e 2Pe 3.17 e significa simplesmente um conhecimento antecipado. Berkhof acaba se valendo da mesma forma de interpretar dos teólogos católicos que ao explicar o significado da palavra irmão em grego se valem do hebraico, em hebraico "irmão" pode significar "primo", mas em grego sua etimologia significa "do mesmo ventre", tendo por sua vez uma palavra específica para "primo". B) Em Rm 9.17,18 l. No texto de Rm 9.17,18 que fala de Deus endurecer o coração de Faraó, precisamos entender que a decisão de não deixar o povo sair do Egito foi de Faraó, o próprio Deus previra isso:"Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir, a não ser por uma mão forte"(Ex 3.19), Deus não interferiu na decisão de Faraó, apenas tornou seu coração insensível para revelar sua grandeza. C) Os vasos da ira e os vasos da misericórdia. O texto de Romanos 9.19-23 é um texto base para defender a interpretação calvinista da predestinação, daí ser valioso uma exegese clara e consistente para entendermos o que ele realmente quer dizer para nós. É importante percebermos inicialmente que perícope dos versos 19-21 é ilustrativa para que ficasse claro a posição de Deus e do homem, e que nessas condições o homem não tem do que apelar, mas essa ilustração não é o ponto argumentativo em questão. Convenhamos, dizer que um vaso não pode perguntar ao oleiro porque ele o fez de um modo e não de outro não é a mesma coisa que um homem indagar a seu criador sobre algo. Obviamente que Paulo não está dizendo que somos objetos. Sua ilustração tem apenas o objetivo de nos colocar em nosso lugar de criaturas diante de Deus, pois se Ele quisesse não teria o direito de nos considerar como simples objetos? Os textos de onde Paulo retira essa ilustração são Is 29.15, 16 e Is 45.9, no primeiro essa ilustração é usada para mostrar a ilusão de se pensar que Deus não vê nem conhece as intenções dos homens, no segundo o contexto fala da decisão de Deus de trazer seu povo de volta a sua terra por intermédio de Ciro, provavelmente Paulo cita essa passagem de Is 45 porque nela é onde encontra-se Is 45.25 que é o texto em pauta em Rm 9.6, 7. A retórica de Paulo é que Deus poderia se quisesse ser um Deus frio e ditador como o desenhado pelos calvinistas, mas claramente não é essa visão que a Bíblia nos apresenta de Deus. A prova disso é o verso que vem em seguida, o 22, em que Paulo começa agora a argumentar para explicar os procedimentos justos de Deus nos seus vasos humanos. Assim, ao invés de Paulo falar de Deus de um modo autoritário e intransigente, ele diz que Deus na verdade suportou com muita paciência os vasos da ira, mas isso com o objetivo de se fazer conhecido nas riquezas de sua bondade nos vasos da misericórdia. Note que o verso 22 se completa no 23. A partícula grega HINA (a fim de que) faz o enlace entre os vasos da ira com os vasos da misericórdia. Nisso é preciso perguntar o que torna alguém um vaso da ira de Deus? Romanos 2.1-8 responde: "Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem.E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade" (ver ainda Rm 1.18-27). É nesse ponto que o texto de Rm 9.19-23 se esclarece, pois os vasos da ira não o são porque Deus os fez, mas por causa de suas próprias escolhas e deliberações contrárias a vontade de Deus. Quando lemos no verso 22 que Deus suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição, precisamos notar que essa preparação não é feita por Deus, mas pelos próprios vasos. O verbo traduzido por "preparar" nesse texto é KATARTÍZO e está no tempo particípio neutro do perfeito médio-passivo ligando-se diretamente a palavra grega SKEUOS traduzida por "vaso", que é uma palavra neutra em grego, desse modo são os próprios vasos da ira que se preparam para a perdição, pois o sujeito, ou melhor dizendo o agente da médio-passiva da frase "preparados para a perdição" não é Deus, mas esses vasos por estarem no mesmo gênero do verbo no original grego. Por outro lado, quando fala dos vasos da misericórdia no verso 23 o sujeito da frase é claramente Deus, e aqui ficará claro porque me preocupei em dizer que os vasos da ira e da misericórdia estão entrelaçados de tal modo que os da misericórdia são o alvo, nos dois versos, o 22 e 23, porque a vontade de Deus é que todos sejam salvos, confirmando o que Paulo disse em Rm 11.32: "Porque Deus encerrou a todos sob a desobediência para ter misericórdia de TODOS". Vale ainda comparar 2Tm 2.20, 21 que diz "Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e PREPARADO toda a boa obra" para mostrar que são os vasos os responsáveis pelas suas próprias classificações. D) João 6.44. Outro texto muito usado para defender os ensinos calvinistas é Jo 6.44 "Ninguém pode vir a mim se o pai que me enviou não o trouxer....". Destaco ainda que o verbo grego traduzido por ''trouxer'' é ELKÚO e tem o sentido de ''puxar'', ''arrastar''. Para entendermos esse texto basta respondermos uma pergunta: Como Deus-Pai traz as pessoas a Cristo? Jo 5.36-40 responde: "Mas o testemunho que eu tenho é maior que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que faço dão testemunho de mim que o Pai me enviou. E o Pai que me enviou, Ele mesmo tem dado testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua forma...mas vós NÃO QUEREIS vir a mim para terdes vida". Assim, o modo que Deus-Pai chamava as pessoas a Cristo era por meio dos sinais e milagres (Jo 10.25). Foi o que aconteceu no capítulo 6. Deus concedeu a Jesus o milagre da multiplicação dos pães mas em vez daqueles judeus crerem que Jesus era o Messias estavam apenas interessados no pão que comeram de graça (Jo 6.26). Por isso que Jesus disse que eles não vinham a Ele por causa da obra do Pai. Como os milagres que Deus concedia a Jesus são a base do cristianismo podemos dizer que todos que vêm a Cristo o fazem por causa de Deus-Pai. Quanto ao verbo grego ELKÚO que tem o sentido de arrastar, ele também ocorre em Jo 12.32, que diz: ''E eu, quando for levantado da terra, ATRAIREI TODOS a mim mesmo''. E) Atos 13.46-48 é um dos textos favoritos dos calvinistas para defender seu ensino da predestinação. O comentário do pastor Glauco é perfeito: "Então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. Mas Paulo e Barnabé, usando de ousadia, disseram: Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a PALAVRA DE DEUS; mas, visto que a rejeitais, e NÃO VOS JULGAIS DIGNOS DA VIDA ETERNA, eis que nos voltamos para os gentios; Porque o Senhor assim no-lo mandou: eu te pus para luz dos gentios,a fim de que sejas para salvação até os confins da terra. E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e GLORIFICAVAM A PALAVRA DO SENHOR; e creram todos quantos estavam ORDENADOS PARA A VIDA ETERNA". O Texto não fala de PREdestinação ou PRÉordenação, mas de "ordenados" (ou "dispostos" ou "destinados") naquele momento. A leitura acima deixa tudo claro. A atitude para com a Palavra de Deus mostra como estou em ordem para a vida eterna. Os judeus rejeitaram a PALAVRA e, logo, não se acharam DIGNOS DA VIDA ETERNA. Os gentios GLORIFICARAM A PALAVRA DO SENHOR e, logo, se ordenaram (ficaram em ordem, dispostos) para a VIDA ETERNA. Vale ainda observar: Esse texto de At 13.48 tem uma informação técnica que vale ser dita aqui. A forma verbal do verbo grego traduzido por "ordenados" que é TETAGMÉNOI do verbo grego TÁSSO (designar, ordenar, fixar). Essa forma está na voz médio-passiva, e por isso tem duas formas de ser traduzida. Na voz passiva (o sujeito sofre a ação) ou na voz média (quando a ação é feita em benefício próprio) dependendo assim do contexto. Em Atos 13.48 a tradução ideal é na voz média, ficando o texto assim: "E ouvindo os gentios alegraram-SE e glorificaram a Palavra do Senhor e creram todos quantos ordenavam-se para a vida eterna". Os verbos "alegrar" e "glorificar" estão em grego no imperfeito por isso as traduções colocam um SE em alegravam-SE o que necessariamente prepara o verbo seguinte para ser em ação média e não passiva. Todo o contexto mostra que a ação é dos gentios de ouvir, crer e glorificar.

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